sábado, 29 de setembro de 2018

Ególatras Anônimos

Não importa o quão na merda eu esteja, eu me levanto e busco, tento fazer o que é preciso ser feito. Apenas porque alguém tem de fazer. 
Eu auxilio a quem posso. Apenas porque eu posso. Porque, afinal, se eu posso, eu não deveria? Omitir-me daquilo que não me gera ganho direto deveria ser mesmo o melhor caminho?
Mas não deixo de imaginar o quanto minha vida, e creio que da maioria, seria melhor se quem pudesse, fizesse. Se quem pudesse ajudar, levantasse e fizesse, apenas porque alguém tem de fazer.
Mas para isso, as pessoas precisariam levantar suas cabeças. Olhar ao seu redor. Perceber. Enxergar outras pessoas. Outras vidas que não giram em torno das suas, vidas que nem sempre tem algo a oferecer em troca da sua atenção, do seu cuidado.  
Mas a posição mais comum no uso dos modernos smartphones, creio eu, está correta: um pouco acima do umbigo, que é para onde todos estão realmente olhando. 
E no fim, tudo isto é uma grande retórica, porque eu não quero realmente ser notado por essas pessoas. Eu quero é não precisar ser notado por elas. Alheio ao arreio que apenas aparelhou aquilo que sempre fomos e sempre seremos: primatas fascinados demais pelo fogo para lamentar o incêndio.

segunda-feira, 10 de setembro de 2018


Gentilezas Falsas

Sejam gentis... Mesmo quando não tiverem razão para ser.  Sejam gentis, e se não souberem ser, finjam. Sorriam mesmo sem entender. Porque eu sei o peso do desprezo. Eu sei o preço do desapreço. O peso da rudeza que carrego mesmo sem nunca ter pedido por ela.
Carrego em mim cada olhar desviado.
Carrego, com alças que me cortam os ombros, o desdenho sobretudo daqueles que amei e de quem só queria um afago, um sorriso, uma gentileza ainda que falsa.
Em cada pessoa que se diz autêntica e verdadeira, jaz a alegria e a motivação daqueles que ouviram verdades que por mais verdadeiras que fossem, careciam de cuidado, de carinho. Mais vale um elogio calculado que leva o outro ao próximo passo, do que a crítica mal pensada que aleija tantos de nós. Não afague todos os cães nas ruas se não gosta deles, mas não os apedreje para que então fujam até dos que os querem bem. Não maltrate quem levará isso consigo e arrastará como bolas de ferro que nos impedem de ao menos tentar. Nem todos vão ignorar, relevar ou retrucar. Na dúvida, seja gentil. Não seja verdadeiro, autêntico. O mundo já tem autenticidade de sobra. O que falta é gentileza, ainda que falsa.