quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Ou-trem


No compasso do caminho,
que parece seguir apenas em frente,
já fui vagão.
Já levei em mim o que não era meu.
Fui carona de quem, em mim,
viu atalho.
Resvalo de si.

Mas antes disto, 
também fui carga.
Já me arrastei de um lado a outro,
levado por curvas que não eram feitas por mim.
Já fui pesado, etiquetado
comprado e vendido
aguardado e rejeitado.

Já fui estação.
Aguardando incólume por paradas breves,
esperando por quem nunca desembarcou.
Lamentei em chuva o que vi o ar deslocado levar,
pois a estação é ponto de parada,
mas nem mesmo dos perdidos é lar.

Mas há de chegar o dia,
em que serei locomotiva.
E então outros me acompanharão
ou simplesmente ficarão para trás.
Envoltos no vapor que minha certeza será.
Vapor de quem, outrora vagante,
agora, vagalume.