quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Quase-epitáfio

Nota: Publicado inicialmente no Facebook, esse breve poema, por alguma razão que me foge, foi de agrado de muitas pessoas que leram, sendo bastante compartilhado por lá... Publico-o aqui para mantê-lo próximo de seus pares, devidamente registrado e guardado.


Quando eu me for,
deste pro outro lado do manto,
peço pouco:
Que não me acendam velas,
pois delas mal suporto o cheiro...
Se eu precisar de luz,
me iluminem com seus bons pensamentos,
suas boas lembranças
me iluminem com suas preces sinceras,
não com orações ensaiadas...
Peço que não se reúnam para sofrer por mim...
Se em vida eu tiver feito o possível para não magoá-los ou entristecê-los,
não me furtem o direito de continuar sendo motivo de alegria, não de tristeza...
Reúnam-se para relembrar os bons momentos que vivemos,
gargalhem ao lembrar de nossas piadas, de nossas risadas soltas...
Celebrem o que vivemos de bom e mantenham a chama do acesa 
de tudo o que nos manteve juntos
não das velas que remetem à ida, que por algum tempo,
nos manterá separados...


7 de Outubro de 2013


quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Às Folhas


Uma rajada
mais forte que as de sempre
e de repente percebo
o quanto é estranho ser folha
folha que cai
que se solta
que voa e que seca

É estranho ser folha
porque a árvore não te estende o galho
não tenta te amparar
a árvore não sofre por ti
não porque a árvore seja má
mas porque tu és folha
só folha

É estranho demais ser folha
folha que quando é
é só mais uma
e quando cai
é só mais outra
somente um vestígio insosso
de algo que não alimentou
por nem ao menos florir
somente folha
folha que outrora fora
para então apenas ressequir


É triste, isso sim
é triste ser folha
bom era ser árvore
com sua pompa e indiferença
com seus galhos ofertando vida
se bem que ao pensar
bom mesmo era ser ar
era ser vento
vento que leva a folha ao soprar
mas que se quiser
tira até a árvore
de seu parvo ostentar


01 de Julho de 2013

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Em andamento



Curioso como por vezes o mais brilhante sol
se ofusca sob uma pequena e escura nuvem
temos sempre pouco tempo
a cada dia menos espaço
e ainda assim pessoas são fúteis
ocas
sobrevivem à parte de si
ocupando-se umas das outras
preenchendo seus vazios
com vazios alheios

A tristeza hoje me soa irresponsável
temo pelo vazio dela
temo pelo tempo que perco,
sufocado pelo tempo perdido
temo imensamente me tornar um dos outros
os que não são eu, e nem de fato são eles
sinto agarrar minha essência
mas ainda assim sinto não segurá-la
é líquido que em minhas mãos se perde
tal como um lago, não a levo comigo
sinto que terei de ir ao encontro dela

A finitude alheia
denuncia a minha
grita em meu ouvido
feito uma louca desvairada
e eu grito para o vento
pra ver se assim alguém me escuta

Rogo à divindade que muitos nomeiam
e que todos são em parte,
que eu me irrite
que eu me enraiveça
que eu me desaponte
que eu chore
mas que não seja sempre
pelas mesmas coisas

Maio / 2013

Nota: O nome deste é “Em andamento” não por acaso... era o nome do arquivo, pois foi escrito em vários momentos diferentes, e de certa forma aquele nome temporário resumia o que considero a máxima da existência humana: o constante devir que nos torna eternos projetos de nós mesmos...



quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Eu era soberano em meu trono
rei em minha solidão
alheio a qualquer julgamento
respirando a pretensão
de que sabia o que fazer
tudo aquilo que me define
passa longe daquilo que sou
pois por mais que seja tudo isso
jamais serei só isso
jamais serei só eu
daqui, de dentro de mim,
tudo parece tão confuso
e tão fácil de entender

"O amor nem sempre é
algo de que eu me orgulhe,
mas nunca será algo
de que eu me arrependa"


2004



Nota: As aspas aqui são apenas para separar dois momentos de uma mesma escrita... pois não necessariamente se conectam, ainda que estejam juntos... como uma imagem que vem à mente, um flash que surge tão inusitado quanto se vai...