Nota: Rompo momentaneamente a cronologia estabelecida aqui e abro um breve
parênteses...
Escrevo
desde os 9 anos de idade... A primeira coisa que eu escrevi na vida foi um
conto sobre um cara que ia pra Júpiter, chegando lá encontrava outro cara que tinha
ficado lá remanescente de uma outra expedição... O texto é péssimo, a redação
também... rs... A minha primeira poesia tinha um tema bem similar ao soneto que eu adorava, Alma minha gentil que te partiste, de Camões, mas sem nem uma gota de seu talento, esmero e beleza... A partir
daí escrevi muita coisa em muito pouco tempo. Dessa época, poucas coisas
salvam, seja pelo caráter pueril dos temas abordados, seja pela escrita ainda
bem rudimentar... Mas até que eu pude evoluir rapidamente, tinha tempo de sobra
já que era a única criança em uma casa de adultos com nenhum amigo próximo
nessa fase da vida... Lia muito também nesta época...
Em
uma conversa recente, por email, com minha carinhosa amiga Ju Vox, ela me
perguntou se aqui no blog tinham poesias anteriores aos meus 13 anos...
respondi que sim, pois minhas primeiras publicações aqui são desta época, os
dois primeiros se não me engano... A questão é que esta conversa me fez revirar
um outro registro velho, velhíssimo este, de folhas datilografadas (isso mesmo,
na máquina de escrever!) com textos de minha infância... escrevia rascunhos e
depois datilografava... No final do ano de 1989, comecei a escrever um conto de
umas 30 páginas, que deu origem a mais 2, formando uma trilogia... todas as
histórias são bestas e previsíveis, mas pra mim na época era o máximo escrever
algo tão longo quanto 30 páginas... rs... lembro que levei esses contos e
algumas poesias, tempos depois, a uma professora minha, da 5ª série se não me
engano... ela adorou, foi super bacana comigo e citou um trecho da poesia que
colocarei aqui logo abaixo... Foi escrita no ano em que terminei o primeiro
conto da tal trilogia, ou seja, eu tinha mais ou menos 10 anos nessa época...
pessoalmente não acho que ela seja tão boa, e minha professora (de português)
deve ter levado em conta minha idade e maturidade para tecer seus comentários
tão carinhosos... se comparada a uma poesia minha mais recente, será nítida a
evolução da escrita e da pessoa que escrevia, mas para um menino, uma criança
de pouco mais de 10 anos de idade, acredito que seja até bem bacana...
Sendo
assim, abro essa exceção para publicar "Outono", provavelmente a
única que tenho coragem de publicar dessas mais antigas, mas que é importante à
sua maneira, e traz uma metáfora que é bem singela...
Outono
Chego
e abro a porta
quem
vê acha normal
mais
um entre tantos
só
mais um
Acho
a casa suja
e
em desordem
todos
que passaram
deixaram
suas marcas
janelas
quebradas
gotas
de sangue
as
folhas secas
se
quebram quando passo
tento
entender o porquê
e
esbarro em mais sujeira
em
cacos do passado
Pego
um pano
e
passo sobre as coisas
junto
com a poeira
vem
a incerteza
alguns
papéis mofados na lixeira
alguns
amores esquecidos
O
chão escorregadio
tem
um brilho ofuscante
passo
a cera
com
quem acaricia
uma
pétala de rosa
limpo
cada fresta
e
vejo cada momento
cada
ilusão
lapido
calmamente os sonhos
tão
toscos
e
sinceros
Restauro
as janelas
colando
os pedaços
e
limpando as madeiras
uno
cada peça do quebra-cabeça
e
me sinto bem
Com
a sensação
de
ter quebrado um vaso
sem
poder colocar outro no lugar
vou
embora
e
deixo a casa arrumada