Gentilezas Falsas
Sejam gentis... Mesmo
quando não tiverem razão para ser. Sejam
gentis, e se não souberem ser, finjam. Sorriam mesmo sem entender. Porque eu
sei o peso do desprezo. Eu sei o preço do desapreço. O peso da rudeza que
carrego mesmo sem nunca ter pedido por ela.
Carrego em mim cada olhar
desviado.
Carrego, com alças que me
cortam os ombros, o desdenho sobretudo daqueles que amei e de quem só queria um
afago, um sorriso, uma gentileza ainda que falsa.
Em cada pessoa que se diz
autêntica e verdadeira, jaz a alegria e a motivação daqueles que ouviram
verdades que por mais verdadeiras que fossem, careciam de cuidado, de carinho.
Mais vale um elogio calculado que leva o outro ao próximo passo, do que a
crítica mal pensada que aleija tantos de nós. Não afague todos os cães nas ruas
se não gosta deles, mas não os apedreje para que então fujam até dos que os
querem bem. Não maltrate quem levará isso consigo e arrastará como bolas de
ferro que nos impedem de ao menos tentar. Nem todos vão ignorar, relevar ou
retrucar. Na dúvida, seja gentil. Não seja verdadeiro, autêntico. O mundo já
tem autenticidade de sobra. O que falta é gentileza, ainda que falsa.
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