Assim que se sai
da casa da Tristeza – que adora fazer visitas, mas escolhe a dedo quem chama
para morar com ela – à direita, subindo a rua, é possível ver a Negação
cortando a grama de sua casa. Mais à frente a Raiva tateia no chão de sua
varanda em busca de seus óculos. No alto da rua, mais umas tantas casas à
frente, mora a Esperança. Essa aceita qualquer visita, há quem passe a vida
encostado à sua varanda, sua casa é uma algazarra, ela não se preocupa em
arrumar e não se importa que baguncem. Um pouco antes dela, uma casa de poucas
janelas, de pouca mobília e de portas sempre fechadas. Lá, quase no meio do
caminho entre a Tristeza e a Esperança, vive a Lucidez. Ela quase não sai de
casa e recebe poucas pessoas, que chegam e saem muitas vezes sem nem passar da
varanda, trocando apenas poucas palavras. Com ela, ninguém mora. Dizem que lá
dentro o silêncio é tanto, que nem o Tempo, que já viveu com ela e é o mais
paciente de todos,
conseguiu ficar.
22 de novembro de 2017.